12.08.2009

Pedro Nunes


Pedro Nunes (Alcácer do Sal, 1502Coimbra, 11 de Agosto de 1578), que usou o nome latinizado de Petrus Nonius, foi um matemático português e um dos maiores vultos científicos do seu tempo, que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da navegação, essencial para as Descobertas portuguesas. Dedicou-se ainda aos problemas matemáticos da cartografia. Foi também o inventor de vários aparelhos de medida, incluindo o nónio (nonius, o seu sobrenome em latim).
Em 1537 traduziu para português o Tratado da Esfera de Sacrobosco, os capítulos iniciais das Novas Teóricas dos Planetas de Purbáquio, e o livro primeiro da Geografia de Ptolomeu. Em 1544 foi-lhe confiada a cátedra de matemática da Universidade de Coimbra, a maior distinção da época que se podia conferir a um matemático.
Subsistem ainda hoje dúvidas sobre a origem familiar de Pedro Nunes. Judeu ou não, certo é que os seus netos Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira foram presos e condenados pela Inquisição, acusados de serem judeus. O primeiro esteve preso entre 31 de Maio de 1623 e 4 de Junho de 1631; o segundo em Lisboa, entre 6 de Junho de 1623 e 1632.

A infância de Pedro Nunes é pouco conhecida. Ele estudou na Universidade de Salamanca talvez de 1521 a 1522, e na Universidade de Lisboa (que mais tarde veio a ser a Universidade de Coimbra) onde fez a sua graduação em medicina em 1525. No século XVI, a medicina usava a astrologia, e assim ele também aprendeu astronomia e matemática. Pedro Nunes continuou os seus estudos em medicina, mas também leccionou várias disciplinas na Universidade de Lisboa, incluindo moral, filosofia, lógica e metafísica. Quando, em 1537 a universidade voltou para Coimbra, ele foi para a refundada Universidade de Coimbra para ensinar matemática, um cargo que manteve até 1562. Esta era uma nova disciplina na Universidade de Coimbra e foi criada com o intuito de fornecer as instruções técnicas necessárias para a navegação, que se tornara um tópico bastante importante em Portugal neste período, onde o domínio do comércio marítimo era essencial para o país. A matemática tornou-se uma disciplina independente em 1544.
Além de se dedicar ao ensino, foi nomeado como Cosmógrafo Real em 1529 e Cosmógrafo-mor em 1547 até à sua morte.
Em 1531, o Rei D. João III encarregou Pedro Nunes da educação dos seus irmãos mais novos, Luís e Henrique. Anos depois, foi também responsável pela educação do neto do rei (e futuro rei), Sebastião.
É possível que durante a sua estadia em Coimbra, Christopher Clavius tenha assistido às aulas de Pedro Nunes, sendo assim influenciado pelo seu trabalho.Pedro Nunes viveu num período de transição, onde a ciência mudou de uma índole teórica (e onde o principal papel dos cientistas era comentar os trabalhos dos autores precedentes), para a provisão de dados experimentais, ambos como forma de informação e como método de confirmar as teorias existentes. Nunes era acima de tudo um dos últimos grandes comentadores, como mostra o seu primeiro trabalho publicado, mas também reconhecia a importância da experimentação.
Nunes cria que o conhecimento científico devia ser partilhado. Assim, o seu trabalho original era impresso em três línguas diferentes: Português, Latim, tentando atingir uma maior audiência na comunidade escolar Europeia, e ainda um (Livro de algebra en arithmetica y geometria) em Espanhol, o que foi considerado surpreendente por alguns historiadores, dado que Espanha era então o principal adversário de Portugal no domínio dos mares.
Muito do Trabalho de Nunes está relacionado com a navegação. Foi ele o primeiro a perceber porque é que um navio que mantivesse uma rota fixa não conseguiria navegar através de uma circunferência, o caminho mais curto entre dois pontos na terra, mas deveria antes seguir uma rota em espiral chamada loxodrómica. A posterior invenção dos logaritmos permitiram a Leibniz estabelecer a equação algébrica para a loxodrómica.
No seu Tratado em defensão da carta de marear, Nunes argumenta que uma carta náutica deveria ter circunferências paralelas e meridianos desenhados como linhas rectas. Ele também mostrava-se capaz de resolver todos os problemas que isto causava, uma situação que durou até Mercator desenvolver a projecção de Mercator, o sistema que é usado até hoje.
Nunes trabalhou em vários problemas práticos de navegação respeitantes à correcção da rota ao mesmo tempo que tentava desenvolver métodos mais precisos para determinar a posição de um navio. Ele criou o nónio para melhorar a precisão do astrolábio. O nónio foi usado durante uns tempos por Tycho Brahe que, contudo, o considerava demasiado complexo. Mais tarde foi aperfeiçoado por Pierre Vernier para a sua forma actual.
Pedro Nunes também trabalhou em diversos problemas mecânicos, de um ponto de vista matemático. Ele foi provavelmente o último grande matemático a fazer aperfeiçoamentos significativos ao sistema de Ptolomeu (um modelo geocêntrico), contudo isso perdeu importância devido ao modelo Copérnico modelo heliocêntrico, substituindo-o.
Nunes conheceu o trabalho de Copérnico, mas só lhe fez uma pequena referência nos seus trabalhos publicados,afirmando que era um modelo matematicamente correcto. Ao fazer isto, aparentemente estaria a evitar opinar sobre a questão se seria a Terra ou o Sol o centro do sistema. Alguns historiadores argumentam que provavelmente ele o terá feito com medo da Inquisição, visto que era um "cristão-novo".
Ele também resolveu o problema de encontrar o dia com o menor crepúsculo, para qualquer posição, bem como a sua duração. Este problema per se não teria grande importância, mas serve para demonstrar o génio de Nunes, usado mais de um século depois por Johann e Jakob Bernoulli com menos sucesso. Eles conseguiram encontrar a solução para o menor dia, mas não conseguiram determinar a sua duração, possivelmente porque perderam-se em detalhes de Cálculo Diferencial, que era um campo recente da matemática naquele tempo. Isto também mostra que Pedro Nunes era um pioneiro na resolução de problemas de máximos e mínimos, que só se popularizaram no século seguinte, com o uso do cálculo diferencial.
Recentemente (Agosto de 2009), a Fundação Calouste Gulbenkian e a Academia de Ciências de Lisboa (re)publicaram as obras completas de Pedro Nunes.

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